2013
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Sem Estripulias Eróticas, Um Ano de Muitos Livros, Revistas e Rock'n'Roll. PI ao Quadrado ao Redor do Mundo, e a Criação da Revista Gatos & Alfaces
2013, o ano em que a literatura do escritor Barata e a arte do artesão de livros Barata se deram as mãos e produziram muito mais que poderiam supor. E duas mortes no mesmo abalando minhas estruturas poéticas: Lou Reed e Paulo de Tharso.
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"2013 (MMXIII, na numeração romana) foi um ano comum do Século XXI que começou numa terça-feira, segundo o calendário gregoriano. A sua letra dominical foi F. A terça-feira de Carnaval ocorreu a 12 de fevereiro e o domingo de Páscoa a 31 de março. Segundo o Horóscopo Chinês, foi o ano da Serpente, começando a 10 de fevereiro.
O ano de 2013 é o primeiro a compreender quatro dígitos diferentes desde 1987.[1] Foi marcado pela abdicação do papa Bento XVI e a escolha do primeiro papa latino americano o argentino Jorge Mario Bergoglio, que agora é chamado de Francisco, Papa Francisco. Este ano foi marcado também pela denúncia de espionagem feitas por Edward Snowden a alguns veículos de comunicação onde acusa o governo dos EUA e do Reino Unido de vigiar e espionar ilegalmente através de meios eletrônicos governos e empresas de vários países, gerando indignação ao redor do mundo. Pelo mundo destaca-se uma leve recuperação da economia em países como EUA, China e na Europa que há algum tempo estavam em crise, o atentado terrorista ocorrido durante a maratona de Boston, o nascimento do filho do Príncipe William o Príncipe George, o golpe de estado no Egito, o forte Tufão nas Filipinas matando milhares de pessoas e a chegada de uma sonda espacial a Lua após 37 anos desta vez enviada pela China. Destaca-se também a morte de um ícone histórico, o sul-africano Nelson Mandela ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1993 e líder na luta contra o regime segregacionista do Apartheid, a morte do ator Paul Walker em um acidente de carro comovendo as pessoas e a morte do presidente da Venezuela Hugo Chaves. No Brasil temos como destaques o trágico incêndio ocorrido na boate Kiss, a morte do músico Chorão da banda Charlie Brown Jr, a prisão dos condenados no caso do mensalão e os fortes protestos ocorridos em todo o país tendo como estopim a violência policial durante protestos contra a tarifa de ônibus na cidade de São Paulo."
Escrito e Publicado por
Barata Cichetto em
19/9/2018
Quando eu me propus a escrever a história dos últimos vinte e um anos, tendo como pano de fundo o meu projeto cultural A Barata, sabia de antemão o que encontraria, não sabia, ou ao menos não imaginava. Não imaginava que teria que percorrer tão profundamente certos caminhos, alguns muito cheios de espinhos, e que mexeriam muito com minha cabeça. Lembrar é sempre reviver, de alguma forma, e principalmente trazer à tona sentimentos que estavam guardados. Dentro do tempo linear, os traumas, as dores e as alegrias vão acontecendo de acordo com o fluxo, mas quando a gente se propõe a, como foi meu propósito, escrever o que aconteceu em um ano em um dia, a coisa às vezes fica pesada demais. Completo agora o décimo novo dia de lembranças e escritas, e foram dezenove dias de insônia, litros e litros de café e dezenas de maços de cigarro. O Sexo tomou a forma e o contexto de cada um daqueles momentos, a Poesia refletiu sua emoção e o Rock'n'Roll, como trilha sonora, apenas um eco distante de outras épocas. Houve noites de deitar na cama e sentir um cansaço absurdo, dores nas juntas e enxaquecas horrorosas, e ainda assim, mesmo a poder de analgésicos, era possível o sono, já que a cabeça ficava martelando no texto que seria escrito no dia seguinte, remoendo fatos. Todos os dias meu computador foi vasculhado em busca de fotos das épocas relatadas, todos os dias era uma nova redescoberta, uma nova imagem, um novo som, e novas palavras para velhas histórias.
Há momentos que quero que isso acabe logo, para que essa carga se vá, mas sinto que quando acabar, e me faltam cinco dias para cinco anos para que isso ocorra, sentirei falta desses, em que quase mais nada na minha existência parecia importar, em que as noites silenciosas se tornaram amantes, e os sons do presente, barulhos insuportáveis. Talvez os relatos desses anos mais recentes sejam um tanto enfadonhos ao leitor, já que não há estripulias eróticas, trepadas em muros de cemitério, nem grandes festas, mas apenas relatos de muito trabalho com produção de livros e uma determinação absurda de minha parte em produzir livros, revistas e tudo o mais que pude abarcar. Espero que um dia, no futuro, quando alguém ler estes relatos, que o faça com os olhos postos não no passado e nas histórias de um escritor, um poeta, um artista, sempre renegado por seus próprios pares, mas de um homem que buscou, através de sua arte, o sentido de sua existência.
Normalmente Janeiro em que a maioria sai de férias, deixa o salário do ano na praia, enfrenta horas e horas de trânsito em estradas lotadas com a intenção de descansar. Pobres funcionários de empresas que deixam seu suor para o patrão o ano inteiro, precisam de descanso, e assim deixam o tem e o que não tem nas mãos dos pobres comerciantes praianos. Mas eu, que não tinha emprego formal desde que retornara de Belém em 2000, tinha preocupações e gastos com coisas diferentes.
A edição da Editor'A Barata Artesanal tinha vendido bem, considerando-se os parcos meios de venda, e era um trabalho, até por causa daquele sonho, que eu tinha um carinho muito grande, e como tinha ficado sabendo sobre uma editora do Rio de Janeiro, que publicava poesia, ainda em 2012 tinha mandado os textos, com o mesmo conteúdo e textos. E, para minha surpresa, aceitaram publicar, sem colocar nenhum empecilho. Seria uma tiragem não muito grande também a ideia de estar com uma empresa estruturada, que colocaria o livro em pontos de venda, e inclusive em seu site, me dizia que as perspectivas eram boas. Embora o lucro fosse irrisório, sendo que o que paguei ao cartório para reconhecer firma das assinaturas no contrato, e depois as despesas de correios, foram em valor superior ao lucro que eu teria com a minha parte nas vendas, achei que a eventual divulgação que fariam compensaria.
O ano de 2013 foi bem interessante para mim na questão de mídia, já que fui chamado a dar entrevistas em inúmeras mídias. A primeira foi por escrito ao poeta e artista plástico goiano Diego El Khouri e ainda no mês de Janeiro foi a um programa que eu sempre acompanhava, o "Talk Show" da simpaticíssima Célia Coev, que tinha apresentado semanas antes a banda Tublues, do Cezar Heavy, onde aliás ele meio que pedia desculpas sobre briga na Stay Rock e dizia o quanto eu era importante à carreira deles.
Como o pacote com "Cohena Vive!" deveria ser entregue nas primeiras semanas do ano, e então achei extremamente propícia a data de 29 de Janeiro para a entrevista. Nesse meio tempo, comecei a tratar de encontrar lugar para o lançamento, e comecei a divulgar a data e local, que seria no dia 14 de Fevereiro, num bar e antiquário chamado Papo, Pinga & Petisco, na Praça Roosevelt, uma região repleta de teatros e bares.
Falar com a Célinha é sempre delicioso, pois ela deixa o convidado que parece que somos amigos de longa data, e portanto o programa que era transmitido ao vivo, com espectadores interagindo conosco foi altamente descontraído, e pude apresentar e convidar para o lançamento do livro, que era o mote da entrevista. Um detalhe curioso foi que, como eu não tinha o livro propriamente dito, apenas uma impressão que eu mesmo tinha feito da arte da capa enviada pela Editora, monte um exemplar "falso". Dentro, apenas uma porção de folhas em branco. O exemplar real eu acabei entregando à Célia apenas mais de um ano depois, quando retornei ao programa.
Os dias corriam e chegou Fevereiro... E em Fevereiro tem... É, tem Carnaval, e o lançamento tinha sido marcado para a semana seguinte, mas até a sexta-feira não tinha chegado ainda meu pacote com os exemplares que seriam usados no lançamento, e que eram, no fim das contas, a minha cota de autor. Agora imaginem, eu tentando falar com alguém numa empresa do Rio de Janeiro, no final da tarde de uma sexta-feira de Carnaval. O jeito foi ligar para o local do lançamento, cancelar e aguardar que a Editora se manifestasse e depois remarcar.
O meu pacote contendo vinte exemplares, que era a parte que me cabia chegou quinze dias depois. E foi só isso que coube, já que a tal Editora nunca colocou a venda, e sequer meu nome nunca constou da lista de autores no site deles. O lançamento, que acabou acontecendo apenas em 30 de Abril, e contou apenas com a presença dos amigos Ivan e Van Lima da banda Barata Suicida, do Raul Cichetto, do Mauzinho Schimidt e do José Nogueira, além de mim mesmo e da Bell, foi outro daqueles micos que paguei. Aliás, paguei caro, já que o Papo, Pinga & Petisco é um bar bem caro.
Outro projeto literário que eu tinha começado ainda em 2012 teria naquelas semanas a edição final. "Patrulha do Espaço no Planeta Rock" era um apanhado de textos que eu tinha escrito sobre a banda, desde os famosos "Diários de Bordo", passando por entrevistas, "releases", "reviews" de discos, e ensaios, onde num deles eu relatava o episódio que me magoara, com relação ao CD ."ComPacto". O material compilado foi mandado ao Rolando, que ficou surpreso com o teor, e no prefácio que escreveu acabou fazendo um "mea culpa". Esse livro nunca teve um lançamento oficial, muito menos com a presença da banda, o que seria o normal de se esperar, mas a partir daí esteve à venda nos balcões de venda de "souvenirs" por um bom tempo, sendo que foi um dos títulos que mais exemplares vendi, com três edições, todas atualizadas e com capas diferentes.
A minha história com a Patrulha do Espaço e esse lançamento, me abririam as portas para outra entrevista, desta feita em Maio, com Paulo Ragassi, fã confesso da banda. Apenas um detalhe: essa entrevista, que em principio seria ao vivo, mas por problemas técnicos acabou sendo gravada. O detalhe é que, não fosse por eu ter recebido uma cópia e eu mesmo colocado no meu canal no Youtube, ninguém teria assistido até agora.
O ano de 2013 foi um dos mais intensos em matéria de publicações, já que o projeto "Editor'A Barata Artesanal", além dos trabalhos para outros escritores tinha deslanchado. Foram oito lançamentos de trabalhos meus em doze meses - incluindo uma reedição de "Sangue de Barata" -, sendo quatro de poesia. Os outros foram "Emoções Baratas", "101 Poemas em 90 Dias - O Poeta e Seus Espelhos", que foi um desafio a mim em escrever um poema por dia durante 30 meses, mas acabei fazendo mais e mantive no livro. E por fim, escrevi e editei em poucos dias o, "Versos Orgânicos", que foi inspirado em "Sonetos Luxuriosos", do escritor veneziano Pietro Aretino, do século dezesseis. Inclusive as próprias ilustrações usadas no livro são do bolonhês Agostino Carracci, que ilustravam a primeira edição dos "Sonetos". Outra das particularidades sobre esse livro é que no titulo é na verdade uma provocação a "Versos Satânicos", obra literária do escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie, que na Inglaterra teve livros queimados, além de ser proibida a sua edição em vários países. E por fim não uma particularidade, mas um segredo: eu tinha um tesão desgraçado por uma cabeleireira do bairro, e a cada vez que a via ficava de pau duro. Ai sentava e escrevia o que eu queria falar e fazer com ela. Eu nunca comi aquela cabeleireira, e cheguei até a pensar quando o livro ficou pronto, em entregar um exemplar a ela, mas desisti.
Além dos citados, fiz ainda um livro de ensaios sobre Rock chamada "Syd Barrett Não Mora Mais Aqui", e "Alpha III, Uma Trajetória Musical" que era para ser a biografia do Amyr Cantusio Jr, que ele, como sempre mijou no poleiro e acabou sendo um apanhado de textos, incluindo um biográfico que escrevi.
Por último, mas não necessariamente menos ou mais importante, ou que tenha sido feito depois, já que não lembro a ordem em que esses trabalhos saíram, o "Seren Goch: 2332", que foi outro libreto que escrevi, desta feita inspirado em três obras, que a mim se completam: "A Revolução dos Bichos", de George Orwell, "Cântico" uma distopia da escritora russo-americana Ayn Rand, e "2112", da banda canadense Rush, que por sua vez é baseado na mesma obra. Rush sempre foi uma das minhas bandas prediletas, graças também justamente às letras escritas por Neil Peart.
"Seren Goch", que significa "Estrela Vermelha" em galês, é uma distopia que fala do fim do individualismo, seguindo os mesmos passos de "Cantico". Já "2332", seria o ano fictício, cujo numeral foi escolhido por ser um palíndromo. Escrevi o libreto com a história completa, em versos, criei as artes e a capa, e contava com Amyr para musicar, mas ele não quis fazer dessa forma, e então acabei simplesmente fazendo a gravação das narrações, que tem inclusive participação da Bell com a leitura da frase célebre do "Animalismo" de Orwell, "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros", que usei como abertura da obra. Amyr criou "camas", trilhas sonoras para as leituras, e colocou efeitos na minha voz. Um detalhe, que também gerou celeuma, é que eu queria que o tempo total fosse de 23 minutos e 32 segundos, ou seja 23:32. Eu bati o pé, e acabamos incluindo faixas bônus dele, apenas com instrumental, para aumentar o tempo do CD. Enfim o que era para ter sido nossa segunda Opera Rock, acabou sendo apenas um disco de poesia narrada.
Ainda no final do ano anterior, em Dezembro eu tinha criado outra publicação digital, cuja concepção foi dar uma resposta a onde do politicamente correto que começava a tomar conta da cultura, algo muito perigoso, pois é uma das formas mais violentas de censura, pois não age com brutalidade física, mas psicológica. Basicamente, a censura "tradicional" proíbe o que foi dito, feito, escrito, encenado, mas na censura do politicamente correto ela age de forma muito mais cruel e eficaz, fazendo com que o próprio criador se censure, impedindo de pensar nas coisas que são apregoadas com proibidas. Muito similar ao que Orwell falava sobre a "Novilíngua". Baseado nisso criei uma publicação provocativa, onde foram publicados textos de imagens, especialmente de cunho publicitário, que seriam fatalmente rechaçadas. A edição foi um sucesso absoluto, com milhares de "downloads" e começou a chamar a atenção das pessoas, e tratei de começar logo uma segunda edição.
A partir dessa segunda edição, a Pi Ao Quadrado começou a tomar rumos diferentes, justamente em função das diversas correntes artísticas que afluíram e começaram a chegar de todas as partes do país. De uma revista provocativa, com críticas pesadas ao politicamente correto, ela passava a ser, gradualmente uma revista estritamente artística. Se na primeira a capa era do artista plástico Toni Le Fou, esta contava com uma maravilhosa versão da Monalisa, feita por outra artista fabulosa, a Darlene Carvalho, e essa edição dobrou em quantidade de "downloads", o que me animou a continuar, e em menos de dez meses lançar mais quatro edições da revista.
Uma das pessoas que mais me deu apoio, e quando eu digo apoio no caso dela é apoio mesmo, foi a Joanna Franko, uma amiga virtual que eu tinha há alguns anos, mas da qual nada conhecia, sequer o rosto, mas que já demonstrara, inúmeras vezes um respeito imenso ao meu trabalho. Por intermédio da Joanna é que foram chegando os artistas do mundo inteiro querendo publicar em Pi Ao Quadrado. De Portugal, Espanha, Inglaterra, Canadá, Estados Unidos e até mesmo do Japão e, pasmem, até da Islândia, sem contar, claro, de todos os estados brasileiros.
A Joanna, sempre discreta fazia os contatos e muitas vezes recebia e traduzia alguma coisa que fosse necessária. A edição numero quatro, que tinha capa de Edgar Franco, foi o marco dessa transformação, já que a partir dela, o que ainda restava da Pi ao Quadrado provocativa foi deixado de lado, em nome da mais pura e maravilhosa arte visual. Com isso, os números foram crescendo de forma brutal, me forçando até colocar dois ou três sites de "download" diferentes para não ter problemas. Tinha muita gente querendo participar, e quando era informado que eu estaria recebendo material, meus emails explodiam. Tantos eram os artistas, e todos queriam suas artes na capa, e para não deixar ninguém de fora da capa, a ideia foi fazer, para a capa da numero cinco, um mosaico com 23 artes de artistas diferentes. Ficou linda essa capa, e essa estratégia acabou resultando em mais números, em mais interessados em publicar, mas principalmente, em um trabalho exaustivo e intenso de edição, já que todo o material recebido tinha que ser escolhido, separado, editado e depois montado dentro da revista, o que demandava um tempo muito grande. Essa edição numero cinco, por exemplo, contou com 120 páginas, que demorou cerca de 10 dias de trabalho contínuo para ser concluído. E coisa seria maior ainda na edição seguinte.
Embora eu e Joanna tivéssemos estabelecidos prazos rígidos e numero de participantes, a coisa acabou saindo do controle, e para a sexta edição, em cerca de duas semanas me chegaram às mãos trabalhos de 70 artistas diferentes, e sua edição demorou quase vinte dias, com direito a ter que refazer todo o trabalho com cerca de setenta por cento prontos, por que o arquivo tinha ficado tão pesado, que havia travado o computador, o que causaria a inutilizarão. O resultado foi 150 páginas de uma edição que acabou gerando crises de ciúmes em vários artistas, já que o artista de Portugal Alcídio Marques fez uma maravilhosa pintura em tela representando o nome da revista, e depois fotografou e mandou. Não sei o destino da tela, mas fiquei muito tempo sonhando em poder comprá-la. Não preciso dizer que essa edição bateu novos recordes e disparou mundo afora, quebrando todos os limites de fronteiras, credos, cores do mundo. E eu poderia ter continuado, afinal, meu nome como editor daquela revista corria que nem fogo em capim seco por todos os cantos, mas preferi parar.
Todo esse sucesso, atrelado a todo o tempo e trabalho necessários acabariam me causando problemas, até mesmo financeiros, já que era obrigado a abrir mão de coias que poderiam me render algum dinheiro, e como eu não podia contar com ninguém para ajudar nos trabalhos, e ademais tinha meus próprios projetos literários e editoriais para tocar, decidi parar. Até os dias de hoje, cinco anos depois, existem artistas, e mesmo leitores, que perguntando quando a Pi ao Quadrado irá retornar.
Foram muitas as emoções suportadas com essa publicação, que reputo como uma das, talvez a mais, importante que fiz. Lidar mesmo que indiretamente com tanta gente, com tantos artistas, tantas mentalidades diferentes é algo cansativo, mas no final extremamente prazeroso. Mas nenhum momento nesses dez meses em que editei a Pi ao Quadrado me causou tanta emoção quando da edição da numero quatro.
Eu conhecia o trabalho do poeta Paulo de Tharso há bastante tempo, desde quando fora cantor a banda Big Balls, depois compondo em parceria com Nelson Brito, a musica "Os Mil Sóis" para a banda Golpe de Estado. Lia sempre sua poesia no blog que ele tinha no UOL, e havia inclusive publicado algo dele na edição de numero três, que ele próprio tinha me enviado, diretamente pelo "chat" do Facebook. Quando preparava a edição falei com ele e pedi-lhe que mandasse outro trabalho dele, no que ele respondeu que mandaria com prazer, mas pedia que eu esperasse uns dias, pois ele estava em ensaios para a estreia nos dias seguintes, de uma peça teatral. A data marcada como fechamento da edição era o dia 15 de Maio, e essa conversa se deu no dia 3. Pedi que ele me mandasse até o dia 15. E ele me confirmou que o faria nessa data, mas não mandou: naquela noite de 15 de Maio de 2013, Paulo de Tharso foi encontrado morto. Fiquei muito chocado, e decidi prestar uma ultima homenagem a ele, simplesmente postando o "print" dessa conversa, encimado por um poema dedicado a ele, que eu escrevera no momento em que soubera de sua morte.
Outro Poeta Deixou o Jogo (Ao Poeta Paulo de Tharso, Falecido há poucas horas)
E então ficamos por ali. Eu, Paulo; e ela, a Morte Jogando baralho, bebendo Gin e tirando a sorte A morte, eu e Paulo nem éramos tão amigos assim Mas jogávamos juntos e bebíamos do mesmo Gin E como "a dor é uma espécie de azar", azar foi meu Porque agora, amigo, jogamos apenas a Morte e Eu.
Barata Cichetto, 15/04/2013
Terminei o episódio anterior falando sobre meus programas de "webradio", afirmando que eu receberia em breve um convite inesperado. Então agora é momento de falar sobre o "Rádio Barata Livre", que seria o nome do meu programa, novamente, na Stay Rock Brasil. Com o mesmo Cezar Heavy como intermediário, e que tinha sido o pivô da minha saída, quatro anos antes, mas que por outro lado também o que me convidara inicialmente, a direção me convidava para voltar. Em principio relutei, ainda magoado com os fatos anteriores, e também sentia que eu tinha compromisso com o Professor Paulão da Rádio a Ferro e Fogo, mas acabei aceitando, e em 31 de Janeiro de 2013 eu voltava aos microfones, claro, com enorme tesão, como sempre. Naquele ano fiz, religiosamente, sem faltar uma semana, 44 programas de duas horas, além de ter criado um novo site e um "slogan" para a rádio, que ao que me consta é usado até os dias de hoje. No início do ano, como eu tinha lançado um novo projeto, dessa feita bem mais ambicioso, a revista "Gatos & Alfaces" decidi dar uma parada, retornando em 2015.
Sempre fui merecedor de inúmeros adjetivos, a maior parte dele ligados a defeitos, como chato, ranzinza, mal humorado, linguarudo, teimoso, e por aí. Mas ninguém de negar dois que também são bem aparentes na minha personalidade: sou extremamente dedicado e determinado. Quando entro em qualquer coisa, sempre o faço plenamente, e procuro esgotar todos os limites para realizar o que precisa ser, sempre procurando fazer o melhor que posso, e indo buscar o que desconheço. E assim foi no período que estive na Stay Rock.
Quando o empresário, proprietário me disse que a rádio completaria cinco anos, e que nunca teria sido comemorado, me pus a trabalho, em principio tentando encontrar um local. Ligava, e mandava emails às potenciais, e depois ia aos endereços checar. Fui a umas quatro delas, mas sempre tinha um problema, até que cheguei ao Santa Sede na Parada Inglesa, onde os donos, muito receptivos, aceitaram e ficaram alegres em fazer o evento. E assim, continuei com o trabalho, fazendo as artes e divulgação e voltando várias vezes à casa para levar material da banda que iria tocar, que seria a Tublues, do velho amigo Cezar Heavy. Na época morando em Guaianases, eu tinha que atravessar São Paulo para ir até a Parada Inglesa, inclusive bancando as despesas do meu bolso. Tudo era feito com muito gosto, pelo prazer de participar, de fazer. E ia, mesmo um tanto chateado, continuando. Até que...
Era 27 de Outubro de 2013, eu tinha chegado ao Santa Sede ainda no meio da tarde, quando ninguém ainda tinha chegado, e fui ficando ali pela porta, andando de um lado para outro até entrou uma mensagem no meu celular, de um amigo perguntando se era verdade. E não dizia o que, o que ele queria saber se era verdade? Sem resposta, até que alguém chegou e deu a notícia: Lou Reed Tinha morrido naquele "Sunday Morning". Fiquei em estado de choque, sem conseguir raciocinar direito, sem poder aceitar aquilo. Eu nunca fui de ser fanático por nada, de ser fã de nada nem de ninguém, mas o caso de Lou era diferente, pois fora ele, e nenhum poeta tradicional, quem me despertara o gosto por poesia, ainda na adolescência. Foi conhecendo a poesia musical dele que eu tinha tomado coragem de falar o que tinha na cabeça. Enfim, quem tinha morrido não era apenas o "rocker" Lou Reed, mas o meu guru poético.
Bem, mas à parte o sentimento que eu sentia, era preciso continuar com a festa. Ademais eu tinha levado meus lançamentos recentes e tinha montado uma banca, sempre apoiado pela Bell, que tomava conta quando eu ia resolver algum detalhe do evento, ou receber algum amigo, já que o dono da rádio chegou apenas em cima do horário marcado para o início. A tarde-noite foi muito boa, com a Tublues apresentando um "show" impecável. No final eu estava cansado, e tinha vendido pouquíssimos livros, que sequer pagariam nossas despesas de lanches, bebidas e metrô do dia, e esperei que ao menos, por conta de todo o trabalho que eu tinha realizado, a direção da webradio fosse se prontificar a pagar nossa despesa, já que a banda tinha, além do cachê, uma cota por conta. Mas não foi o que aconteceu, e não fosse pela gentileza dos donos do Santa Sede, que não cobraram a nossa parte, teríamos que lavar pratos e voltar para casa a pé.
Fiquei muito chateado com isso, que foi também fator que pesou quando decidi no final do ano que pararia, além do citado antes, que era o principal, a revista. Poderia ter reclamado, mas preferi me calar, por que sempre penso que tem coisas que são tão claras e simples, especialmente com relação a reconhecimento por trabalho, que não precisam ser ditas. E não precisam, mesmo. Ao menos para pessoas que possuem senso de justiça.
Uma das coisas que tinha mais me abalado com a morte de Lou Reed, foi daquelas estranhas coincidências que sempre acontecem e a gente não entende. Cerca de um mês e pouco antes eu tinha colocado na cabeça a ideia de fazer uma revista. Mas teria que ser mesmo uma revista, com formato, tamanho e capa de uma, já que "fanzine" eu não queria mesmo fazer. Comecei a fazer testes e criar ideias de diagramação e capa, e tinha chegado que seria possível fazer, desde que fosse em preto apenas a impressão. O nome tinha surgido numa seção de comentários dentro de uma postagem de Facebook, e seria "Gatos & Alfaces" e, claro, a publicação seria voltada para meu querido trinômio: Sexo, Poesia & Rock. E quem melhor poderia representar aquilo, senão o meu guru poético-roqueiro-sacana? No final de Outubro eu tinha o numero zero pronto e circulando nas mãos de amigos e potenciais anunciantes. A única coisa que mudei, quando foi finalmente lançado o numero um da revista, foi a foto de capa, que segundo foi divulgado, era a última que ele tinha feito antes de morrer.
A "Gatos & Alfaces" foi lançada oficialmente em Janeiro de 2014, e duraria exatos seis números.
Inúmeros shows e eventos importantes aconteceram em 2013, e que sempre contaram com minha presença, sempre acompanhado da minha fiel escudeira, a Bell Giraçol. O Rock nos Trilhos, praticamente a estreia da banda Kamboja, do Paulo Thomaz,e Frank Gasparotto e Fábio Makarrão; duas apresentações da Patrulha do Espaço, uma no SESC Belenzinho em Fevereiro, outra no Manifesto Bar em Agosto; a Vitrine do Rock, na Galeria Olido, com Kim Khell e os Kurandeiros em Setembro; a apresentação da Barata Suicida na Adega Rainha em Santo André, produzidos pela Marta Lima, e o grande destaque do ano, que foi o Super Peso Brasil, no Carioca Club, produzido pelo Ricardo Batalha,e em 9 de Novembro, que reuniu bandas icônicas do Metal brasileiros como Metalmorphose, Stress, Centúrias, Taurus e Salário Mínimo, tendo como um dos convidados o grande vocalista e ser humano: Jack Santiago. Esse dia marcou meu ultimo encontro com o também amigo e um dos maiores cantores do Rock do Brasil, Percy Weiss, que recebeu de presente de mim, um exemplar do "Patrulha do Espaço no Planeta Rock".
Antes de encerrar os relatos dos acontecimentos do ano de 2013, não posso cometer a injustiça de omitir dois fatos emocionantes que aconteceram, e que me honram e me deixa cheio de gratidão aos que os proporcionaram: primeiramente o artista e agitador cultural de Fortaleza, no Ceará, Daniel, aka Azriel, Dutra, organizou um evento naquela cidade que tinha o nome de "Zineteca Resistência", onde expôs todos os livros que eu tinha editado e ainda as revistas impressas, com direito ao logotipo da "Editor'A Barata Artesanal". O segundo, que veio de Portugal, pelo artista Emanuel R. Marques, que pediu um depoimento em vídeo para a estreia de um projeto cultural dele chamado "Em Busca da Criatividade" e ao qual posteriormente incluiria artistas de renome da Terra de Pessoa, e outros países da Europa. Essas duas pessoas, com certeza, me proporcionaram momentos de intenso regozijo, e a eles serei eternamente grato.
Poesia do Ano
Todos os textos e poemas publicados em A
Barata, exceto quando indicados, são de autoria de Luiz Carlos Giraçol Cichetto,
nome literário Barata Cichetto, registrados no Escritório de Direitos Autorais.
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Lei.
Diário de Um Espelho
Barata Cichetto
Todas as manhãs olho meu rosto no espelho embaçado
- Olha para o outro lado, estúpido vidro amaldiçoado!
Outro fio branco em minha barba, - caralho, que bosta!
Pois nos meus cabelos brancos o tempo fez sua aposta.
Outras rugas, o amarelado intenso e a pele inchada
"Cale-se, espelho nojento ou lhe parto com a enxada
E ao olhar ao meu rosto, não acho nada engraçado
Pois não vejo graça das misérias de um desgraçado.
E não tenho sanha de maldito ou alma de artista
Não sou o sonho, mas o pesadelo de um monista
Nem augusto nem dos anjos, porco poeta sebento
Pois das chagas sou o pus e das mágoas lazarento.
Nunca fui bom nunca santo, nem do pau nem do oco
Pois qualquer desgraça a mim é sempre muito pouco
Um dia ainda quebro o espelho sem nenhuma piedade
E continuo a olhar meu rosto sem qualquer felicidade.
06/03/2013
PALAVRAS E PESSOAS-CHAVE (keypeople and Keywords)
Agostino Carracci; Pietro Aretino; Talk Show; Célia Coev; Diego El Khouri; Editora Multifoco; Cohena Vive!; Papo, Pinga & Petisco; Praça Roosevelt; Patrulha do Espaço; Patrulha do Espaço no Planeta Rock; Paulo Ragassi; Rock nos Trilhos; Kamboja; Leandro Almeida; Frank Gasparotto; Manifesto Rock Bar; Vitrine do Rock, Blues Rides; Edy Star; Kim Khel; Azriel Dutra; Zineteca Resistência; Politicamente Incorreto ao Quadrado; Pi ao Quadrado; Joanna Franko; Darlene Carvalho; Alcídio Marques; Emanuel R. Marques; Seren Goch: 2332; Amyr Cantúsio Jr.; Adega Rainha; Marta Lima; Barata Suicida; Stay Rock Brasil; Santa Sede Rock Bar; Lou Reed; Rubens Giogia; Christine Funke; Gigi Jardim; Ivan Lima, Van Lima; Mauzinho Schimidt; Raul Cichetto; Ricardo Alpendre; Paulo de Tharso; Edgar Franco; Toni Le Fou;
Todos os textos, exceto quando indicados,
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Cichetto, e foram registrados na
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